Era tarde para morrer pensara enquanto mastigava um pouco de pão ressequido.
Finalmente tinha morta a vida e seu estado era de uma penúria lastimável. Que tinha
Nome tudo o fazia para recordar, e aceitar a culpa, como sendo sua, era uma obrigatoriedade.
Porém estava velho, cansado e seu corpo, sempre tão vazio de tudo, movia-se qual
Autómato por entre o cimento do concreto e o paralelepípedo dos olhos dos outros negros
Corvos de uma sociedade corrupta e castrante.
(Apercebera-se de como fazia frio
Lá fora, na rua, quando dera o rosto ao vento e a brisa gélida entrara-lhe olhos dentro).
Quão longe vai o homem em sua perdição
seria a antecâmara da fuga de sua vida,
E assim compenetrado ia e lia, os subtítulos do seu próprio medo, assentes no pó do soalho,
No qual rastejava ainda o seu sentido mais apurado.
Submetendo cigarro após cigarro, tremura por sensações, pensamentos
Por indigitações era o fumo o grande agente causador de tamanha poluição e fácil é o esquecimento
Ante o sufoco sugerido. Ah! Não pensar em nada, seria possível?! Exclamou de repente.
Não, não era. Finalizou entreolhando-se, censurando o brusco movimento de sua mão.
Não pensar em nada é pensar em tudo, duas vezes. Concluiu de encontro ao peito da
Porta, baque surdo da madeira cedendo.
-Engole comprimido atrás de comprimido e consome-se por inteiro, num frenesim desesperado,
Cá e lá na cama ou no chão, pela cura restabelecido!
Jorge Humberto
15/12/05